Alimentos Funcionais: Uma Introdução

Dos primórdios da Civilização, quando o homem se alimentava daquilo que encontrava na Natureza, aos dias atuais, grandes mudanças ocorreram no Estilo de Vida e nos hábitos alimentares das pessoas.

As primeiras alterações em alimentos para melhora do seu valor nutricional, foram realizadas em 1920, através do acréscimo de sais minerais. Durante as décadas seguintes houve um grande desenvolvimento da Tecnologia de Alimentos em diversos aspectos, como por exemplo, o desenvolvimento de novos ingredientes, embalagens, equipamentos e processos para obtenção de novos produtos alimentícios.

Concomitantemente, a expectativa de vida humana cresceu significativamente nas últimas décadas, enquanto a Qualidade de Vida declinou, impulsionada pelos maus hábitos alimentares e estilo de vida sedentária do mundo industrializado, os quais vêm elevando a incidência de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, dislipidemias, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, câncer e outras.

Alimentação Saudável: a Solução

Incentivada por essas mudanças e seus impactos negativos sobre a Qualidade de Vida da população mundial, a comunidade científica passou a discutir intensamente sobre a importância e a eficácia da prática de uma alimentação saudável na prevenção de doenças. E assim, cada vez mais, Pesquisas vêm relacionando o consumo regular de certos alimentos à prevenção de envelhecimento celular, distúrbios intestinais, sintomas da Menopausa e diversas doenças crônicas, que afligem a sociedade moderna. Graças a este movimento, surgiu uma nova classe de alimentos.

O conceito desse tipo de alimentos foi introduzido, em 1980. no Japão. Já, em 1989, surgia nos Estados Unidos, os chamados alimentos “Nutracelticals”, atualmente, denominados Alimentos Funcionais: aqueles que, além de nutrir o corpo, exercem uma função fisiológica no organismo, ligada à prevenção de Doenças Crônicas, graças à presença de compostos biologicamente ativos, em sua composição.

Promotores de Saúde: Atuam na Prevenção de Doenças

Os Alimentos Funcionais são considerados promotores de Saúde por estarem associados à diminuição dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas e suas moléculas bioativas são a estratégia para corrigir distúrbios metabólicos, resultando em Saúde e prevenção.

Foram identificadas várias classes de substâncias químicas, biologicamente ativas, de origem vegetal, conhecidas como Fitoquímicos, que podem reduzir o risco para desenvolver doenças crônicas, em especial Diabetes Mellitus, Câncer e Doenças Cardiovasculares. Entre estas substâncias encontram-se:

1. Fito-hormônios

Os Fito-hormônios são substâncias produzidas pelo metabolismo secundário das plantas que, quando consumidas regularmente, têm a capacidade de restabelecer o equilíbrio hormonal do organismo. Algumas pesquisas indicam que estas substâncias são uma alternativa para a reposição hormonal após a menopausa e, que uma reposição hormonal feita de forma natural estimula o próprio organismo a regularizar a produção hormonal.

Os Fito-hormônios mais estudados são as Isoflavonas, encontradas em vegetais como soja e broto de alfafa, e as Lignanas encontradas em sementes como linhaça.

2. Fibras Solúveis

Reduzem o risco de câncer de cólon e melhoram o funcionamento intestinal. Podem também ajudar no controle da glicemia e do colesterol, e no tratamento da obesidade, pois conferem maior saciedade.

Estão presentes em: aveia, quinoa, amaranto, linhaça, chia e outros.

3. Probióticos: Bifidubactérias e Lactobacilos

Favorecem as funções gastrointestinais, reduzindo o risco de constipação (prisão de ventre) e Câncer.

Estão presentes em: leites fermentados, Iogurtes e outros produtos lácteos fermentados.

4. Ácidos Graxos Ômega-3
1) Ácidos EPA e DHA

Reduzem os níveis do LDL Colesterol; ação anti-inflamatória; indispensável para o desenvolvimento do cérebro e da retina de recém-nascidos.

Estão presentes em: peixes de alto mar, como sardinha, salmão, atum, anchova e arenques.

2) Ácido alfa-linolênico

Estimula o Sistema Imunológico e possui ação anti-inflamatória.

Estão presentes em: óleos de linhaça, gergelim, nozes e amêndoas.

5. Prebióticos: Fruto-oligossacarídeos (FOS) – Inulina

Ativam a Microflora Intestinal (Bactérias Colônicas), favorecendo a Imunidade da Mucosa Intestinal.

São extraídos de vegetais: como raiz de chicória e batata Yacon.

6. Pigmentos que dão cor e protegem os vegetais

São substâncias com ações antioxidantes, anti-inflamatórias, entre outras, dentre os quais destacam-se:

  1. Betacaroteno: presente em cenoura, manga, mamão e outros:
  2. Licopeno: presente em: tomate e melancia:
  3. Luteína: presente em folhas verde-escuras: brócolis, couve manteiga, almeirão, escarola e outros:
  4. Indóis e Isotiocianatos: couve-flor, repolho, brócolis, mostarda, couve de Bruxelas e rabanete:
  5. Sulfetos Alílicos (alil sulfetos): presentes em alho e cebola:
  6. Taninos: presentes em: maçã, sorgo, manjericão, manjerona, sálvia, uva, caju e soja:
  7. Catequinas: chá verde, café, cacau, frutas vermelhas (cereja, amora, framboesa, mirtilo) e uva roxa:
  8. Flavonoides: Polifenóis de: uvas escuras, azeite de oliva extravirgem, cacau, chá verde e café.

O Conceito Definitivo de Alimentos Funcionais

O Comitê de Alimentos e Nutrição do Institute of Medicine, Estados Unidos, em 1994, definiu Alimentos Funcionais como: “qualquer alimento ou ingrediente que, além dos nutrientes tradicionais nele contidos, possa proporcionar um benefício à saúde”.

No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) define alimento funcional como: “aquele alimento ou ingrediente que, além de cumprir as funções nutricionais básicas, quando consumido, como parte da dieta habitual, produz efeitos benéficos à saúde”. Para ser registrado como funcional, o alimento deverá obedecer à Legislação: MS (ANVISA: Res. 19 de 1999) e estará sempre baseado em evidências obtidas a partir dos dados de Estudos Epidemiológicos, in vivo, in vitro e Ensaios Clínicos.

Alimentos Funcionais não são uma Solução Mágica!

O conceito de Alimento Funcional vem evoluindo bastante nos últimos vinte anos, e a lista desses alimentos, tem se tornado cada vez mais extensa. Por outro lado, o fato mais significativo, é o potencial que os Alimentos Funcionais apresentam de mitigar e prevenir doenças crônicas, promovendo Saúde e contribuindo para a Qualidade de Vida dos indivíduos que os consomem.

Entretanto, deve-se enfatizar, que os alimentos funcionais “não são uma bola mágica ou uma panaceia universal” para péssimos hábitos de vida. Não há alimentos “bons” ou “ruins”, mas há dietas “boas e más”. A ênfase deve ser dada ao padrão dietético geral, que deverá ser baseado em vegetais, rico em fibras, com pouca gordura animal e que contenha de 3-4 porções de frutas e 5-6 poções de hortaliças por dia.

Além disso, a dieta é somente um componente de um estilo de vida geral que pode ter um impacto sobre a saúde; outros componentes incluem ausência de tabagismo, prática regular de atividades físicas e combate ao estresse. Afinal, longevidade e qualidade de vida são consequências de um estilo de vida saudável, do qual uma boa dieta é apenas uma das partes fundamentais.

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