Farinhas Funcionais: Importância, Classificação e Benefícios

As Farinhas Funcionais constituem uma maneira prática e muito versátil de ingerir alimentos ricos em fibras e micronutrientes importantes para a Saúde e foram criadas com base em resultados de Estudos sobre Propriedades Nutricionais e Funcionais de vários alimentos ricos em Fibras e Nutrientes Bioativos.

Essas farinhas constituem Ingredientes Funcionais obtidos a partir da secagem e moagem de diversos alimentos entre grãos de cereais e leguminosas, frutas, legumes, sementes e frutas oleaginosas. Por isso, estas farinhas vêm fazendo o maior sucesso entre praticantes de uma alimentação saudável.

Os alimentos produtores de Farinhas Funcionais são variados, mas todas essas farinhas são ricas em Fibras Funcionais e possuem Nutrientes Bioativosque lhes conferem diversos efeitos fisiológicos.

Por isso, essas farinhas foram denominadas coletivamente de Farinhas Funcionais.

Importância das Farinhas Funcionais

Nos últimos vinte anos, a demanda por novos alimentos nutricionalmente saudáveis e economicamente viáveis vêm aumentando, consideravelmente, visando prolongar a vida útil de alimentos vegetais, para viabilizar e ampliar seu consumo, além de minimizar o desperdício de alimentos no Mundo.

Consequentemente, a comunidade científica tem dedicado muita atenção ao desenvolvimento de Estudos e Pesquisas para conhecer as Propriedades Nutricionais e Funcionais de diversos alimentos vegetais, e também para otimizar o seu consumo. Assim, surgiram as Farinhas Funcionais.

As Farinhas Funcionais são Ingredientes Funcionais de grande importância para a Saúde, porque:

1. Fornecem Praticidade ao Cotidiano da População

Farinhas Funcionais fornecem alta concentração de Fibras e Nutrientes Bioativos variados em baixo volume de produto, garantindo praticidade e versatilidade no consumo, uma vez que os alimentos em pó são:

1. Altamente Nutritivos: pois a pulverização concentra os nutrientes;

2. Muito práticos de consumir: é muito fácil e rápido de prepará-los;

3. Versáteis: estas farinhas podem ser ingeridas diariamente de várias maneiras, podendo ser utilizadas em sucos, vitaminas e comIngredientes Funcionais para o preparo de diversas receitas;

4. Uso industrial: apresentam diversas aplicações na indústria de alimentos, tanto em substituição à gordura e ao amido, quanto para atuarem como agentes estabilizantes, espessantes e emulsificantes.

2. Viabilizam o Consumo de Alimentos Protetores

A produção de Farinhas Funcionais facilita o consumo de alimentos protetores da Saúde,  porque:

1. Prolongam a vida útil de Alimentos Funcionais: o preparo de Farinhas Funcionais é uma maneira de prolongar o tempo de utilização, especialmente, dos alimentos mais perecíveis, que apresentam uma vida útil muito curta; a transformação desses alimentos em farinhas, possibilita sua conservação, prolongando seu consumo inclusive para além de suas safras.

2. Ampliam o consumo de Alimentos Funcionais: o preparo de Farinhas Funcionais constitui uma forma de estender o consumo de alimentos importantes para a Saúde, em especial dos alimentos regionais, que têm seu acesso dificultado para regiões distantes de sua Região Produtora; a produção dessas farinhas facilita o consumo para todas as Regiões do país.

3. Atuam na Prevenção de Doenças Crônicas

Farinhas Funcionais são as ricas em Fibras Funcionais e que desempenham funções fisiológicas ligadas à redução da absorção de gorduras, colesterol e carboidratos, auxiliando na prevenção de doenças crônicas, como as Dislipidemias, Diabetes Mellitus, Obstipação (intestino preso), Hipertensão Arterial, Obesidade, Acidente Vascular Cerebral, algumas Desordens Gastrointestinais, Dislipidemias e Câncer Colorretal.

Grande parte das fibras presentes nas Farinhas Funcionais são Fibras Prebióticas, que servem como “substratos fermentáveis”, para as Bactérias Probióticas, como as Bifidubactérias os Lactobacilusque atuam protegendo a Mucosa Intestinal e potencializando a Imunidade do organismo.

Principais Nutrientes das Farinhas Funcionais

Os Nutrientes encontradas nas Farinhas Funcionais originam-se de alimentos que vêm sendo estudados pelas Ciências da Nutrição, com vistas à determinação de suas Propriedades Nutricionais e Funcionais.

O valor Nutricional e Funcional desses alimentos aliado ao estudo de suas alterações pós processamento térmico, viabiliza a obtenção de Farinhas Funcionais, por se tratar de alimentos fontes de importantes Nutrientes para prevenção e combate de doenças crônicas. Entre os principais Nutrientes, tem-se:  

1. O Principal Nutriente: as Fibras Funcionais

Existe uma característica principal que torna todas as Farinhas Funcionais promotoras da Saúde e da Imunidade geral do organismo: que é a  presença de Fibras Funcionais em todas as suas 4 classes.

Entre os alimentos produtores de Farinhas Funcionais estão Frutas, Legumes, Grãos de Leguminosas e Cereais, Frutos Oleaginosos e Sementes, todos ricos em Fibras, como:  

  1. Pectinas,
  2. Inulina,
  3. Amido Resistente,
  4. Polidextroses,
  5. Betaglucanas e
  6. Fruto-oligossacarídeos (FOS).

papel das Fibras na alimentação vem sendo cada vez mais estudado. Inicialmente, acreditava-se que sua importância se restringia à melhoria do funcionamento intestinal. Entretanto, a Ciência demonstra, cada vez mais, que o consumo adequado de fibras é fundamental para auxiliar na redução do peso corporal, melhorar a atuação do Sistema Imunológico e reduzir o risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. 

2. Outros Nutrientes: Vitaminas, Minerais e Fitoquímicos

Além de serem ricos em fibras, esses alimentos são fontes de importantes Micronutrientescomo:

  1. Carotenoides – betacaroteno, licopeno, luteína e zeaxantina, entre outros;
  2. Flavonoides – resveratrol, antocianinas, polifenóis, taninos e outros;
  3. Vitaminas – solúveis (Complexo B, C) e insolúveis (A, D, E, K); e
  4. Sais Minerais – cálcio, ferro, magnésio, potássio e muitos outros.

Classificação das Farinhas Funcionais

Atualmente, ao passar em supermercados ou loja de produtos naturais, observa-se que há uma imensa variedade de farinhas. O fato é que há diversos alimentos que podem ser “transformados em farinha”

Contudo, antes de comprar estes produtos, é essencial ter o devido conhecimento para escolher e selecionar, uma vez que nem todas as farinhas encontradas são Funcionais e muitas farinhas vendidas como “funcionais” são muito ricas em amido e contraindicadas para uma alimentação saudável.

Quais são as Farinhas Funcionais? São as ricas em Fibras FuncionaisCarboidratos Análogos e Fitonutrientes.

Portanto, as Farinhas Funcionais são ricas em Nutrientes importantes para a Saúde, sem conter elevado teor de amido, uma exceção feita àquelas que apresentem também elevado Valor Nutricional e, por isso, são utilizadas para recuperar o Estado Nutricional de indivíduos desnutridos e convalescentes.

Por isso, de acordo com os seus teores de amido, Nutrientes Funcionais e os benefícios que podem conferir à Saúde humana, as Farinhas Funcionais podem ser classificadas em:

1. Farinhas Funcionais Energéticas

São farinhas ricas em fibras e fitonutrientes, que possuem elevado teor de amido, mas  devido ao seu valor energético aliado à sua riqueza nutricional, são ideais para indivíduos convalescentes e desnutridos, que necessitam recuperar o seu Estado Nutricional e se fortalecer. São bons exemplos deste tipo, as Farinhas de: Alfarroba, Amaranto, Aveia, Grão-de-bico, Trigo Sarraceno e Quinoa.

2. Farinhas Funcionais Nutritivas

São farinhas ricas em fibras e fitonutrientes, com baixo teor de amido e que possuem bons teores de gorduras de qualidade. Por suas características, estas farinhas são ideais para indivíduos que praticam uma alimentação saudável e aqueles que necessitam de uma prática alimentar com baixos teores em carboidratos. São exemplos deste tipo, as Farinhas de: Amendoim, Amêndoas, Castanhas de Caju e do Pará, Coco, Ervilhas, Nozes, Sementes de Abóbora, Chia, Girassol e de Linhaça.

3. Farinhas Funcionais para Emagrecimento

São farinhas ricas em fibras, pobres em calorias e que apresentam grandes benefícios para a Saúde Intestinal e prolongamento da saciedade. São ideais para indivíduos cujo funcionamento intestinal é precário e aqueles que precisam recuperar a Saúde da Flora e da Mucosa Intestinais. São exemplos deste tipo, as Farinhas de: Banana Verde, Berinjela, Feijão Branco, Laranja Amarga, Maracujá, Yacon.

4. Farinhas Funcionais com Funções Específicas

São farinhas ricas em fibras e contêm nutrientes bioativos específicos. Por isso, sua indicação e uso são dependentes dos nutrientes presentes e das necessidades do usuário em questão. São exemplos deste tipo, as Farinhas de: Amora, Banana Verde, Laranja Amarga, Uva, Yacon.

Benefícios das Farinhas Funcionais para a Saúde

Os benefícios advindos do consumo regular de Farinhas Funcionais são resultantes da sinergia entre suas Fibras Funcionais, Vitaminas, Minerais e Fitoquímicoscujos potentes efeitos fisiológicos são: alcalinizantes, antioxidantes, desintoxicantes, anti-inflamatórios. 

Os diversos tipos de fibras presentes nestas farinhas, coletivamente denominadas Fibras Funcionais, não podem ser digeridas por enzimas gastrintestinais humanas. Parte dessas fibras, aquelas que são fermentáveis, as Fibras Prebióticas, seguem intactas para o Cólon, no Intestino Grosso.

Ao atingirem o Cólon, essas fibras são fermentadas pela flora bacteriana local, as Bactérias Benéficas da Microbiota Intestinalque proliferam e reforçam os mecanismos naturais de defesa do organismo.  

Por isso, o consumo diário de Farinhas Funcionais com seus Nutrientes Bioativos e Fibras Funcionais pode conferir diversos benefícios à Saúde Humana, entre os quais, destacam-se:

1. Retardam o Esvaziamento Gástrico

Ao retardarem o esvaziamento gástrico, as fibras contribuem para o prolongamento da sensação de saciedade, o que reduz a fome e o consumo de alimentos. Assim, o consumo dessas farinhas se torna um aliado da manutenção do peso ideal, sendo um auxílio em tratamentos para um emagrecimento saudável.

2. Previnem a Obstipação

Ao prevenirem a “prisão de ventre” (Obstipação), as Farinhas Funcionais reduzem o tempo de contato entre as toxinas e a Mucosa Intestinal. Assim, o consumo dessas farinhas combate a proliferação de micro-organismos maléficos, inibe a formação de células cancerígenas e previne o desenvolvimento de doenças crônicas, como: Câncer, Diabetes Mellitus, Dislipidemias, Diverticulite e Obesidade 

3. Melhoram o Funcionamento do Organismo

Por reduzirem a reabsorção de toxinas, as Farinhas Funcionais combatem a formação de inflamações internas, que estão diretamente ligadas às disfunções metabólicas e ao acúmulo de gordura corporal.

4. Promovem a Formam de um Gel no Estômago

Graças à sua solubilidade, as fibras presentes nas Farinhas Funcionais absorvem água e formam um gel no Estômago, o qual engloba as moléculas de glicose e de gorduras. Assim, o consumo dessas farinhas torna mais lenta a liberação da glicose no Sangue, melhorando o controle Glicêmico (prevenindo o Diabetes Mellitus Tipo 2) e combate os altos níveis sanguíneos de gorduras, prevenindo as Dislipidemias.

5. As Fibras Prebióticas Servem de “Comida”

As Fibras Prebióticas servem de substrato fermentável para as Bactérias Probióticas, as Bifidubactérias e Lactobacilus. Essas bactérias irão fermentar essas fibras, formando Ácidos Graxos de Cadeia Curta, que vão acidificar o meio, tornando o pH mais baixo, o que é fatal para as bactérias putrefativas.

Assim, o consumo de Farinhas Funcionais garante uma Microbiota Saudável e reforça os mecanismos naturais de defesa da Mucosa Intestinal que, além de atuar como barreira contra a invasão de micro-organismos causadores de doenças, é responsável pela absorção dos nutrientes.

6. Promovem a Saúde da Mucosa Intestinal e a Absorção

Por fornecerem fibras fermentáveis (as Prebióticas), as Farinhas Funcionais alimentam as Bactérias Benéficas da Flora Intestinal, garantindo a integridade da Mucosa Intestinal, prevenindo a Disbiose,

É importante lembrar que, além de atuar como barreira protetora dos Colonócitosa Mucosa Intestinal também é responsável pela absorção dos Nutrientes e fundamental para a Imunidade.

7. Podem Substituir as Farinhas Comuns

Em diversas receitas, as Farinhas Funcionais são excelentes substitutas parciais ou totais da farinha de trigo e de outras farinhas ricas em amido, contribuindo para reduzir o valor calórico e o Índice Glicêmico da preparação. Isso contribui para a manutenção do peso ideal e promove um bom controle glicêmico.

Referências...

1. BOTHAM, R. L. et al. A physicochemical characterization of chick pea starch resistant to digestion in the human small intestine. Carbohyd Polym, v. 26, p .83- 90, 1995.

2. CHANTARO, P.; DEVAHASTIN, S.; CHIEWCHAN, N. Production of antioxidant high dietary fiber powder from carrot peels. LWT. Food Science and Technology, v. 4, n. 10, p. 1987-1994, 2008.

3. COPPINI, L. Z. Fibra Alimentar. Congresso Brasileiro de Nutrição e Câncer. São Paulo, 2004.

4. COSTA, N. M. B.; ROSA, C. O. B. Alimentos Funcionais – Componentes bioativos e efeitos fisiológicos. Rubio, Rio de Janeiro,2010.

5. CUMMINGS, J. H.; BEATTY, E. R.; KINGMAN, S. M.; BINGHAM, S. A.; ENGLYST, H. N. Digestion and physiological properties of resistant starch in human large bowel. British Journal of Nutrition, Cambridge, v.75, n.5, p.733-747,1996.

6. CUMMINGS, J. H., MACFARLANE, G. T.; ENGLYST, H. N. Prebiotic digestion and fermentation. Am. J. Clinical Nutrition. Supplements, 2001.

7. DE ANGELIS, R. C. Importância de alimentos vegetais na proteção da saúde: fisiologia da nutrição protetora e preventiva de enfermidades degenerativas. São Paulo: Atheneu, 2001.

8. DESHPANDE, S. S., CHERYAN, M., SALUNKHE, D. K. Tannin analysis of food products. CRC Critical Reviews in Food Science and Nutrition, Boca Raton, v.24, n.4, p.401-449, 1986.

9. DINON, S.; DEVITTE, S. L. Mortadela adicionada de fibras e com substituição parcial de gordura por carragena e pectina. UTFPR. Medianeira, 2011.

10. ELLEUCH, M.; BEDIGIAN, D.; ROISEUX, O. et. al. Dietary fibre and fibre-rich by-products of food processing: Characterisation, technological functionality and commercial applications: A review. Food Chemistry, v. 124, n. 2, p. 411-42, 2011.

11. FOGAGNOLI, G. SERAVALLI, E. A. G. Aplicação de farinha de casca de maracujá em massa alimentícia fresca. Brazilian Journal of Food Techinology, Campinas, v. 17, n. 3, p. 204-212, 2014.

12. FULLER, R. Probiotics in man and animals. J Appl Bacteriol, v.66, n.5, p.365-372, 1989.

13. GONÇALVES, M. C. R.; DINIZ, M.; BORBA, J. NUNES X. P.; BARBOSA FILHO, J. M. Berinjela (Solanum melongena L.) – mito ou realidade no combate as dislipidemias? Rev. Bras. Farmacogn. v. 16, p. 252 – 257, 2006a.

14. GIBSON, G. R. Fibre and effects on probiotics (the prebiotic concept). Clin Nutr Suppl, v. 1, p. 25-30, 2004.

15. GUIMARÃES, R. R; FREITAS, M. C. J; SILVA, V. L. M. Bolos simples elaborados com farinha da entrecasca de melancia (Citrullus vulgaris, sobral): avaliação química, física e sensorial. C. Tecnologia de Alimentos, v. 30, n. 2, p. 354-363, Campinas, 2010.

16. HAULY, M. C. O; MOSCATTO, J. A. Inulina e Oligofrutoses: Uma Revisão Sobre Propriedades Funcionais, Efeito Prebiótico e Importância na Indústria de Alimentos. Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas. v. 23, n. 1, p. 105-118. 2002.

17. LOBO, A. R.; SILVA, L. G. M. de. Amido resistente e suas propriedades físicoquímicas. Rev. Nutr., Campinas, v. 16, n. 2, p. 219-226, 2003.

18. LOURES. A. et al. Obtenção, caracterização e utilização da farinha de banana (Musa sp.) em panificação. Ciência Tecnologia Alimentos. SP, v. 10, n 1, p. 51-57, 1990.

19. PEREZ, P. M. P.; GERMANI, R. Elaboração de biscoitos tipo salgado, com alto teor de fibra alimentar, utilizando farinha de berinjela (Solanum melongenaL.). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.27, n.1, 2007.

20. ROBERFROID, M. B. Functional foods: concepts and application to inulin and oligofructose. Brit J Nutr. v. 87 (Suppl 2). p. S139 – S143, 2002.

21. RODRÍGUEZ, R.; JIMÉNEZ, A.; FERNÁNDEZ-BOLAÑOS, J.; GUILLE’N, R.; HEREDIA, A. Dietary fibre from vegetable products as source of functional ingredients. Trends Food Sci Technol. v. 17, n. 1, p. 3-15. 2006.

22. SILVA, L. M. M; et al. Qualidade físico-química de farinha da semente de abóbora desidratada em estufa a 40°C. Rev. Verde, v. 6, n.5, p. 154 – 159, dez. 2011.

23. YANGILAR, F. The Application of Dietary Fibre in Food Industry: Structural Features, Effects on Health and Definition, Obtaining and Analysis of Dietary Fibre: A Review. Journal of Food and Nutrition Research. v. 1, n. 3, p. 13-23, 2013.

Baixe nosso e-book: 16 Passos para uma alimentação saudável